O que o dinheiro não paga
Fabiana M. Machado fala sobre o custo da incerteza
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Medo. Incerteza. Ansiedade. É o sentimento generalizado nos últimos dias. De outro lado, uma certeza: de que tudo passa. E, como sempre foi, passará. Mas a que preço?
O mundo está se mobilizando para conter o avanço do coronavírus. Cada um fazendo a sua parte, seja em casa para evitar a contaminação, seja trabalhando para atender as necessidades atuais.
Para nós aqui no Brasil, parece tudo novo. Nunca enfrentamos diretamente, no nosso país, uma situação como essa em que é preciso acionar o alarme de emergência. Estamos diante de uma pandemia, de uma calamidade pública, mas o que realmente é preciso fazer?
O vírus pode ser desconhecido, mas está expondo o despreparo de nossas lideranças em situações de crise e emergência. E será que nosso papel é pressionar quem deveria saber o que fazer e, internamente, tentar controlar o desespero?
Desespero que surge pela incerteza do momento: como evitar a doença e como viver sem dinheiro. Mas que muito se agrava pela insegurança que sentimos na forma que os gestores estão conduzindo a situação no país. Só que o desespero também mata.
Não cabe citar nomes, partidos ou esferas, se é de esquerda ou direita. O que cabe é encontrar uma equipe preparada, com união verdadeira entre os governantes, que tranquilize, demonstre o real cuidado com a população e transmita a segurança que é necessária no momento.
Pagamos o preço da falta de uma gestão eficaz. Preço da incerteza sobre o que deve ser feito com equilíbrio. Preço de comportamentos individualistas e, por vezes, imaturos. E, quem sabe, o preço do poder e da política.
Políticos replicam medidas de prevenção de outros países, mas parecem ignorar a real condição socioeconômica do país, onde há muitas pessoas que vivem aglomeradas e sem saneamento básico. E a falta de água é realidade em muitos locais.
Políticos determinam o isolamento e o fechamento dos negócios, mas elegem o trabalhador que deve produzir na indústria e atender nos supermercados ou farmácias em prol dos que estão em casa.
Políticos bloqueiam entradas de suas cidades e a paralisam frotas, impedindo e comprometendo o trânsito dos profissionais de saúde e cuidadores.
Políticos discutem entre "duas crises": a da saúde e a financeira, como se tivessem que escolher uma em detrimento da outra, em vez que encontrar a melhor solução. A doença mata. A fome também mata.
Políticos lastimam em rede social as mortes por causa do coronavírus, mas nenhum deles faz o mesmo quando milhares de pessoas morrem de outras doenças por esperar um atendimento no hospital público decorrente de um sistema falho que eles administram. Responsabilidade do coronavírus é mais fácil de reconhecer.
O dinheiro paga o atendimento à saúde, mas não paga a vida das pessoas.
Diante desse cenário, em que os governantes estão todos em evidência, qual se arrisca a dizer que é preciso voltar à normalidade (mesmo resguardando os doentes) para evitar uma crise econômica e financeira? Saúde em primeiro lugar. Mas, fora dos holofotes e da crise, quem faz o que é preciso para garantir um sistema de saúde de qualidade? Cadê o dinheiro para atendimento à saúde? Não temos certeza de onde está. Só que o descaso também mata.
Talvez estejamos diante de uma doença não apenas imprevisível e de rápida contaminação (em que, de fato, é preciso medida rápida e coletiva). Mas estamos diante de uma doença que alcança a todos, indistintamente, e não apenas àqueles que vivem em situações de risco e vulnerabilidade social. Ou seja, não importa o quanto dinheiro tenha, o risco é para todos. Merece mais atenção.
Com certeza, muito está sendo feito por diversos profissionais e autoridades e esta crise irá passar. Mas, a incerteza pode custar muito caro.
Quer saber mais? Acompanhe a minha coluna semanal aqui no Bella Mais. Vamos juntas nesta jornada!